Cristobal

Cristobal Repetto, argentino, tanguero. A voz dele transporta a dor de um povo, uma dor muito antiga, mas fresca graças ao tango. Esteve esta segunda-feira na Culturgest, num concerto sóbrio e apaixonante, acompanhado simplesmente por uma guitarra exímia. O grande auditório não estava cheio, nem sendo um concerto de 5 euros para jovens, não quero transformar este texto em revolta, mas tenho que deixar escapar qualquer coisa como: aposto que se fosse gotan project a 5 euros seria diferente. A diferença entre este rapaz e os outros é que este aposta na gota cristalina da tradição, um concerto dele não é só um concerto, é uma lição de História, os outros, cuja música também me apraz, deturpam o tango em algo que não é tango, é música electrónica chill-out. São estas as tradições que valem a pena ser ouvidas, são imagens de uma criança com a cabeça apoiada nas mãos e os cotovelos em cima da mesa, a ouvir os discos do pai, e a voz de Violeta Parra a voar pelo ar. É saber que segundo os tangueros, só se pode ser um deles mais ou menos a partir dos trinta, porque antes disso ainda não se consegue sublimar a dor em música, isto tudo num país em que desde cedo se habitua a sofrer. Oiçam, saquem, comprem a música deste homem, que é a genuína música argentina, sintam na sua voz a vida de um povo, como na voz de uma fadista se encontram sempre vestígios de ser português.