segunda-feira, dezembro 29, 2008

mensagem de ano novo - nunca falte esperança

"Não muito tempo depois do seu exílio para o telhado, os Volutas de Fumo de Ardisht aperceberam-se de que dentro em pouco se lhes acabariam os fósforos para acenderem os seus adorados cigarros. Contavam-nos fazendo marcas a giz no lado da chaminé mais alta. Quinhentos. No dia seguinte, trezentos. Um dia mais tarde, cem. Começaram a racioná-los, deixavam-nos arder até aos dedos de quem os acendia, tentando acender pelo menos trinta cigarros com cada um. Quando ficaram reduzidos a menos de vinte fósforos, o acendê-los tornou-se uma cerimónia. Quando chegaram a dez, as mulheres puseram-se a chorar. Nove. Oito. Por acidente, o chefe do clã deixou cair o sétimo do telhado e, por vergonha, decidiu seguir o mesmo percurso. Seis. Cinco. Era inevitável. O quarto fósforo foi apagado pela brisa - um erro crasso da parte do novo chefe, que também se precipitou em direcção à morte, embora o seu mergulho de nariz não tivesse sido opção sua. Três: Iremos morrer sem eles. Dois: É demasiado doloroso para prosseguirmos. E depois, no momento de desespero mais profundo, surgiu uma ideia magnífica, engendrada nem mais nem menos do que por uma criança: basta garantir que esteja sempre alguém a fumar. Cada cigarro pode ser acendido no anterior. Desde que haja um cigarro aceso, existe a promessa de outro. O morrão incandescente é a semente da continuidade! Foram elaborados horários: serviço da alvorada, fumaça matinal, baforada da hora do almoço, missões do meio e do fim da tarde, voluta crepuscular, sentinela solitária da meia-noite. O céu estava sempre iluminado pelo menos por um cigarro, a vela da esperança."
in Está Tudo Iluminado de Jonathan Safran Foer

A minha resolução para o ano novo é esta. Não peço doze desejos (sempre achei isso uma treta, logo com passas!) peço uma coisa chamada esperança. Sei que é um pedido estupidamente utópico e descabido... quem pede esperança? Um bom emprego, sim; saúde, sim; fortuna, sim... mas esperança? Passo a explicar: falo daquela ténue esperança que jamais esmorece... aquela que permite ir avançando com calma através das crises, sejam elas pessoais, familiares, nacionais ou mundiais. Aquela que por vezes perdemos, juntamente com o bom senso e o altruísmo em momentos de desespero, como os frenéticos acendedores de cigarros da história acima descrita. Um bom 2009 a todos, cheio de crises ultrapassadas e com muita felicidade à mistura, afinal não é sempre assim a vida?

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