segunda-feira, junho 15, 2009

Os reis da festa

13 de Junho, dia de Santo António, o favorito dos alfacinhas. Na ressaca das aventuras pelas sete colinas, fomos convocados para uma outra festa pelos reis em pessoa, os reis da festa, entenda-se. Os Melech Mechaya são uma banda que assim se baptizou pois julgavam ser esta a tradução daquilo que realmente são, se é uma tradução bem feita quase nada importa, até podia significar os Bôbos da Festa que eles continuariam a ser os Reis. Posto isto, e porque são realeza, pouco lhes importou que Lisboa inteira padecesse de um enjoo colectivo causado por doses elevadas de sardinha, cerveja e outras iguarias populares, marcando mesmo neste dia o concerto que serviu de lançamento do seu primeiro álbum. "Budja Ba", a Deusa da festa e da folia dá o nome a esta obra e o concerto de sábado no Teatro da Comuna fez juz ao título da sua madrinha. Começou morno, com o público um pouco estático e apreensivo, mas de repente ganhou vida, como se a própria Deusa intervisse em nome dos seus heróis, que com forças sobre-humanas e muito suor derramado, se galvanizaram em nome de uma noite que afinal tinha mesmo de ser memorável. O porta-voz da banda, o clarinetista Miguel Veríssimo, com o seu humor simpático e humilde, apesar de não ter nascido para ser comediante, tem a coragem necessária para apresentar a banda, comunicar com o público e ter piada noventa e nove por cento das vezes que o tenta, agora quando toca clarinete ninguém o pára, e é ele que em conjunto com o violinista João Graça, também ele um grandessíssimo virtuoso da música, desenham à nossa volta as melodias através de diálogos instrumentais que transportam a nós os sentimentos milenares do povo judeu. A harmonia da banda está essencialmente e magistralmente suportada pela guitarra de André Santos, o compositor de uma boa parte das canções deste "Budja Ba", que faz não só a ponte que liga a melodia à secção rítmica, como também a que liga os pólos geográficos da banda: Lisboa e Almada, graças a ele e à ponte 25 de Abril, duas cidades unidas pelo Tejo. A dar ritmo, e essencialmente, muito estilo aos Melech, está o contrabaixista João Sovina e sua boina cheia de personalidade, já que é o único a preferir esta cobertura ao chapéu, que desta feita até soltou pelo ar a sua voz outrora escondida numa versão sentida de "chapéu preto"; e para terminar o mediático Francisco Caiado, com uma legião de fãs sempre a seus pés, que marca o ritmo da música dos reis, ora com a serenidade dos temas mais sofridos, ora com a frenética loucura dos sons mais festivos, que são a principal arma pacificadora desta cada vez maior banda que nasceu do amor que há entre Lisboa e Almada. É sabido que costuma demorar a adaptação dos soberanos ao peso da coroa, mas que fique aqui escrito que chegou a hora destes senhores reinarem com todas as forças como uma das melhores bandas nacionais no circuito insuficientemente chamado de "músicas do mundo".

1 comentário:

R. disse...

Vim aqui guiada pelo e-mail do joão. Bela surpresa, captaste tão bem a essência :)