terça-feira, setembro 15, 2009

Bonne Chance, Ibrahim!

Parece que o inverno já chegou ao norte de Itália, ainda não parou de chover desde que aterrei na bota. Por agora tenho tido muita sorte na arte do encontro, já que logo no aeroporto encontrei um casal internacional de outras histórias que me deu boleia até ao ostello della giuventú di Milano, achado na internet ainda por outra amiga italiana que provavelmente nem vou conhecer.
Depois de um check-in demorado conheci o Ibrahim, um tunisino que chegou a Itália ilegal há já três anos e que, não sendo bem recebido, partiu para Nice. Conversámos no alpendre da pousada numa mistura de italiano e francês sobre Itália, França, Tunísia e Portugal. Ele confessou-me com uma espécie de sorriso que a vida lhe tem sido dura, que não tem encontrado a sorte pelos caminhos, o que me levou a pensar que se porventura toda a gente boa tivesse sorte, não haveria sorte que chegasse para todos, esgotar-se-ia. Gostava que houvesse sempre boa sorte para toda a boa gente.
Assistimos na sala de convívio ao final do programa da Miss Italia '09 e se há coisa que não se perde na tradução é a reacção de dois homens à beleza da mulher. Depois de lhe explicar o meu porquê das mulheres portuguesas serem mais bonitas que as italianas e da típica conversa internacionalista sobre futebol, em que lhe expliquei também o porquê do Sporting ser o melhor clube de Portugal, algo que ele prontamente compreendeu e reconheceu, cada um seguiu o seu caminho pelos sonhos.
No dia seguinte pela manhã quando deixava a pousada, quis deixar-lhe uma mensagem na recepção, o que não foi possível já que eu só sabia o primeiro nome do meu novo amigo. Não querendo desistir deixei o papel encostado ao lado de dentro de um vidro à entrada do hostel, espero que o vento não o tenha colhido e que ninguém o tenha retirado, pois o que desejei ao Ibrahim naquela mensagem é tudo o que ele precisa, pois de tudo o resto que nos torna bons homens ele tem, deixei escrito: Bonne chance, Ibrahim!

Milão, 15.09.09

1 comentário:

SG disse...

A chuva dá uma certa beleza a Itália, lembro-me bem o quanto caminhei debaixo dela, o que tornou ainda mais místicos os locais por onde passei.
É bom vaguear na certeza que vamos encontrar alguém nessa arte tão necessária ao ser humano, onde vértices se tocam e formam um mapa invisível de caminhos por onde a saudade volta sempre de olhos fechados e de braços bem abertos.
De certeza que de toda uma vida de desalentos, alguém vai lembrar-se da simplicidade e da força sentida de duas palavras num pedaço de folha. Bonne Chance ...

Beijo na alma*
SG