terça-feira, novembro 03, 2009

reflexão de caracóis

À frente de cada prédio do meu bairro existem canteiros com vários tipos de plantas, uns têm flores, outros mini palmeiras, outros ainda verdadeiros arvoredos. Nas noites de maior humidade há caracóis que, julgando-se autênticos indiana jones, se fazem ao passeio, ou seja, decidem atravessar a rua de um canteiro para o da frente. Desconhecem no entanto o facto de que existem coisas chamadas pessoas que andam nos passeios imediatamente a seguir aos canteiros e que existem coisas chamadas carros que por sua vez circulam nas estradas. Já me aconteceu muitas vezes sair de casa a pé e de repente ouvir o som de caracol-esmagado, lá tenho que ir o caminho todo a olhar para o chão para tentar não pisar algum destes simpáticos bichinhos. Quando isso me ocorre, é inevitável pensar nos diferentes níveis de percepção sensorial, comparando por exemplo os do caracol aos do homem, o homem tem consciência de muita coisa, tem do seu lado a racionalidade, para além dos cinco sentidos. O pobre do caracol pouco sabe para além do "ter de comer", do "ter que se reproduzir" e do "sei que não sou muito veloz mas era fixe se sobrevivesse". Este nível baixo de percepção faz com que não se aperceba da nossa existência antes de ser espezinhado involuntariamente por um transeunte. Noutra perspectiva, este transeunte pode num dia estar com muita pressa e sair de casa a correr, estando-se nas tintas para caracóis, enquanto noutro dia pode achar muita piada à coisa e ter um cuidado extremo para não pisar os amigos de outra espécie. Eu quando penso nestas coisas sensoriais e extra-sensoriais vem-me sempre este pensamento: de certeza que há muita coisa que não captamos neste mundo, apesar de sermos todos super-sumos da inteligência e da racionalidade. De certeza que há verdades inexplicáveis e invisíveis e seria bom que todos tivéssemos isso em consideração, que não andássemos todos a tentar "explicar a explicação", já que "há segredos sagrados, pelo sim e pelo não".

1 comentário:

Clavel Rojo disse...

Compreende-se... É uma questão solidariedade dos gambozinos para com os caracóis.