"No meu sonho, todos os tectos desmoronados se reconstruíram por cima de nós. O fogo voltou para as bombas, que se ergueram e regressaram aos ventres dos aviões, cujas hélices rodaram para trás, como os ponteiros dos segundos de todos os relógios da cidade de Dresden, só que mais depressa.
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No meu sonho, a Primavera vinha depois do Verão, o Verão depois do Outono, o Outono depois do Inverno, o Inverno depois da Primavera.
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No meu sonho, as lágrimas subiam-lhe pelas faces acima de regresso aos olhos.
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No meu sonho, havia pintores que decompunham o verde em amarelo e azul.
Decompunham o castanho no arco-íris.
Havia crianças que absorviam a cor dos livros de colorir com lápis de cor, e mães que tinham perdido os filhos remendavam a roupa preta com tesouras.
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No meu sonho, havia pessoas que pediam desculpa por coisas que estavam prestes a acontecer. E acendiam velas inspirando. (...) Havia amantes que vestiam a roupa interior um ao outro, que abotoavam a camisa um do outro e que se vestiam e vestiam e vestiam.
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O meu sonho percorreu todo o caminho de regresso ao princípio. A chuva cresceu nas nuvens e os animais desceram a rampa. (...) A chuva apareceu depois do arco-íris.
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No fim do meu sonho, Eva voltou a colocar a maçã no ramo. A árvore tornou-se arbusto, que se tornou uma semente.
Deus reuniu a terra e a água, o céu e a água, a água e a água, a tarde e a manhã, algo e nada.
Faça-se luz, disse Ele.
E fez-se escuridão.
Oskar."
in Extremamente Alto e Incrivelmente Perto de Jonathan Safran Foer