sábado, outubro 03, 2009

sonho: "é melhor perder do que nunca ter tido"

"No meu sonho, todos os tectos desmoronados se reconstruíram por cima de nós. O fogo voltou para as bombas, que se ergueram e regressaram aos ventres dos aviões, cujas hélices rodaram para trás, como os ponteiros dos segundos de todos os relógios da cidade de Dresden, só que mais depressa.

(...)

No meu sonho, a Primavera vinha depois do Verão, o Verão depois do Outono, o Outono depois do Inverno, o Inverno depois da Primavera.

(...)

No meu sonho, as lágrimas subiam-lhe pelas faces acima de regresso aos olhos.

(...)

No meu sonho, havia pintores que decompunham o verde em amarelo e azul.
Decompunham o castanho no arco-íris.
Havia crianças que absorviam a cor dos livros de colorir com lápis de cor, e mães que tinham perdido os filhos remendavam a roupa preta com tesouras.

(...)

No meu sonho, havia pessoas que pediam desculpa por coisas que estavam prestes a acontecer. E acendiam velas inspirando. (...) Havia amantes que vestiam a roupa interior um ao outro, que abotoavam a camisa um do outro e que se vestiam e vestiam e vestiam.

(...)

O meu sonho percorreu todo o caminho de regresso ao princípio. A chuva cresceu nas nuvens e os animais desceram a rampa. (...) A chuva apareceu depois do arco-íris.

(...)

No fim do meu sonho, Eva voltou a colocar a maçã no ramo. A árvore tornou-se arbusto, que se tornou uma semente.
Deus reuniu a terra e a água, o céu e a água, a água e a água, a tarde e a manhã, algo e nada.
Faça-se luz, disse Ele.
E fez-se escuridão.
Oskar."

in Extremamente Alto e Incrivelmente Perto de Jonathan Safran Foer

1 comentário:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.