terça-feira, janeiro 19, 2010

em obras

O meu blogue tem estado em obras (obviamente que isto é uma desculpa para estes dias sem escrever - mesmo não precisando de escrever, já que o blogue é meu e eu é que mando nele), portanto cuidado com os homens das obras que estão pendurados nos andaimes do meu blogue, eles têm umas frases de engate medonhas (a chamada poesia do andaime).
A gerência,
o gambozino

terça-feira, dezembro 22, 2009

ilustrarte


Tenho andado maravilhado com as ilustrações desta artista: REBECCA DAUTREMER. Aqui fica uma pequeníssima porção da obra dela, um trabalho que incide na explicação aos mais novos sobre o nascimento do Jazz: SwingCafé...


domingo, novembro 29, 2009

se os teus olhos

se os teus olhos contassem histórias
ficaria como uma criança suspensa
nos pontos e vírgulas dos enredos
nos silêncios perpétuos dos segredos
nessa tua branda paz adormeceria
à espera do mais feliz dos finais

quinta-feira, novembro 26, 2009

o meu arco

E eis que senão, na aula de escrita de curtas-metragens me deparo com uma grande questão cine-filosófica. A propósito do "arco" de uma personagem habitante de uma narrativa. Qual será mesmo o meu arco? Onde é que ele termina(rá)? Consigo saber onde quero que terminem os arcos mais pequeninos, os dos objectivos mais próximos, por exemplo: estou neste curso para que possa um dia escrever um ou mais guiões com pés e cabeça; estou a trabalhar para que um dia possa ganhar a minha independência e para que me sinta útil e activo; tenho uma linda namorada e acredito no amor para que um dia possa sentir o que é compor uma família; sou escuteiro e tenho uma fé coesa para que nunca deixe de acreditar que as boas obras, a unidade, a liberdade, a iniciativa e a responsabilidade são o caminho para sentir (quase) sempre uma força que me empurra quando preciso de empurrões, ou que me ampara quando me sinto em queda-livre; mas o arco-maior, esse, estou muito longe de saber onde quero que acabe e para quê, mas quero acreditar que estou cada vez mais perto.

sexta-feira, novembro 20, 2009

gambozino livreiro

Tantos livros para tão poucos olhos. É a conclusão que tiro dos meus primeiros dez dias de trabalho na Bulhosa. Não há tempo para muitos porque se vive e trabalha, se não se trabalha não há dinheiro para eles e se não se vive não há identificação neles. Depois quer-se trabalhar, viver e ler e deixa de haver tempo para escrever, mas se não se escreve e se pensa, não dá para organizar e esquematizar o pensamento, ele fica solto e fugitivo. Depois quer-se ouvir música e tocar guitarra, ver filmes e apreciar um final de tarde sem preocupações... E no que é transversal a tudo isto, que é o amor dos que nos são e quando se está apaixonado estar sempre com ela, sou levado a concluir que não são só tantos livros para tão poucos olhos, mas tanto ser para tão pouco estar... e o que é mais bonito e desafiante é achar o equilíbrio em tudo isto!

terça-feira, novembro 03, 2009

reflexão de caracóis

À frente de cada prédio do meu bairro existem canteiros com vários tipos de plantas, uns têm flores, outros mini palmeiras, outros ainda verdadeiros arvoredos. Nas noites de maior humidade há caracóis que, julgando-se autênticos indiana jones, se fazem ao passeio, ou seja, decidem atravessar a rua de um canteiro para o da frente. Desconhecem no entanto o facto de que existem coisas chamadas pessoas que andam nos passeios imediatamente a seguir aos canteiros e que existem coisas chamadas carros que por sua vez circulam nas estradas. Já me aconteceu muitas vezes sair de casa a pé e de repente ouvir o som de caracol-esmagado, lá tenho que ir o caminho todo a olhar para o chão para tentar não pisar algum destes simpáticos bichinhos. Quando isso me ocorre, é inevitável pensar nos diferentes níveis de percepção sensorial, comparando por exemplo os do caracol aos do homem, o homem tem consciência de muita coisa, tem do seu lado a racionalidade, para além dos cinco sentidos. O pobre do caracol pouco sabe para além do "ter de comer", do "ter que se reproduzir" e do "sei que não sou muito veloz mas era fixe se sobrevivesse". Este nível baixo de percepção faz com que não se aperceba da nossa existência antes de ser espezinhado involuntariamente por um transeunte. Noutra perspectiva, este transeunte pode num dia estar com muita pressa e sair de casa a correr, estando-se nas tintas para caracóis, enquanto noutro dia pode achar muita piada à coisa e ter um cuidado extremo para não pisar os amigos de outra espécie. Eu quando penso nestas coisas sensoriais e extra-sensoriais vem-me sempre este pensamento: de certeza que há muita coisa que não captamos neste mundo, apesar de sermos todos super-sumos da inteligência e da racionalidade. De certeza que há verdades inexplicáveis e invisíveis e seria bom que todos tivéssemos isso em consideração, que não andássemos todos a tentar "explicar a explicação", já que "há segredos sagrados, pelo sim e pelo não".

quinta-feira, outubro 22, 2009

os nossos saramagos - comentário saramargo

Antes que os arautos do ateísmo portugueses parem de se babar com os comentários do Saramago II, e antes que os defensores da "verdade inequívoca" das Igrejas parem de bater no velhinho, decidi dar a minha opinião sobre estes nossos saramagos, capazes de tanta e tão pouca inflamação de orgulho nas nossas almas lusíadas. É verdade, na minha opinião existem dois saramagos, e passo a explicar, existe aquele nobel saramago que soube escrever obras incomparáveis no pânorama mundial, que transporta em si a universalidade da literatura, da poética, a força inquebrável das palavras. Esse saramago, que acredito que ainda existe, ao assinar cada obra nova, qual apanágio da "morte do autor", é engolido pelo Saramago II, uma personagem azeda e arrogante que barafusta sobre a ordem mundial desfiltradamente, ora acerta, ora vai ao lado, mas normalmente fala mais do que devia, como o fazem os senhores reformados que jogam às cartas na Alameda e como o fez aquele mítico personagem do nosso Camões, o velho do Restelo. Se "a Bíblia é um manual de maus costumes" para Saramago II também o deve ser para muita gente, gente que não perde tempo a dizê-lo. No entanto para muitos outros a Bíblia é um livro sagrado, ainda para outros será uma das mais importantes obras universais onde se encontra uma das mais fortes fundações da condição humana. Para alguns até tem umas histórias giras, enquanto que os há que nem pegaram nela, mas que sabem que é uma maçada. Eu, que nunca a li de uma ponta a outra, e que já li e estudei algumas partes tanto do velho como do novo testamento, tenho a dizer que cada vez que a abro descubro novas possibilidades, é uma obra que está viva, milhares de anos depois, tal como os poemas épicos de Homero, a Poética de Aristóteles, os tratados de Platão, é uma obra que não se encerra nunca. Decerto que me irrita muito mais que a Saramago, sendo eu católico, que esta obra eterna na sua simbologia seja ainda usada como manual de costumes (especialmente dos maus, porque também há bons), mas o que me irrita ainda mais é a forma como o senhor, para fazer crescer o apetite em torno de sua obra, sente ter que apequenar os outros e as suas convicções e credos. E depois há os que o acham um herói nacional, um intelectualmente exilado, enfim, eu gosto do Saramago I, o autor que se encerra depois de cada obra, o II, que cospe no prato em que comeu, não creio que seja uma fonte de bons conselhos e avisos. Eu sou a favor dos que não precisam de falar sobre os seus livros.

domingo, outubro 18, 2009

da fé

"Porque viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto."


Quem disse foi Jesus Cristo, esse homem em quem acredito, não que o tenha visto, não preciso de provas científicas, não quero saber se o adn dele foi encontrado num resto de madeira que estava num túmulo desconhecido no meio do Oriente. Não quero saber se ele tem ou não descendência, se Maria Madalena era ou não a mulher da sua vida, essas coisas não me interessam muito. Muitas são histórias bonitas, e não me importava se algumas fossem verdade, mas no que eu acredito mesmo é nas palavras, e estas que transcrevi hoje são das mais bonitas que foram pronunciadas por ele. É que eu sou um destes felizes, eu acredito em coisas que muita gente pensa não valer a pena acreditar, é óbvio que não sou crente em tudo, tenho um filtro, que é o sentido que bebo das coisas, como das palavras, dos acontecimentos, da ordem ou da desordem. Dos gestos. É bom ser crente, acreditar em coisas que não se vêem, mas que cabem no que vivemos e sentimos. É preciso acreditar em alguma coisa que não se veja para ser inteiro, para ter esperança, todos sabemos que "o essencial é invisível aos olhos", porque se tem então medo de acreditar? Porque é tão difícil ter (uma) fé?

quinta-feira, outubro 08, 2009

III

(silêncio cúmplice)



quero-o por todos os dias
por todos os pássaros que nos pousam
pelas canções que vivemos
e pelo céu que hoje nos deu baptismo

domingo, outubro 04, 2009

II

quero jurar solenemente que te quero
tragam bandeiras e livros sagrados
toquem os hinos bem compassados
e soltem pombas brancas no fim

sábado, outubro 03, 2009

sonho: "é melhor perder do que nunca ter tido"

"No meu sonho, todos os tectos desmoronados se reconstruíram por cima de nós. O fogo voltou para as bombas, que se ergueram e regressaram aos ventres dos aviões, cujas hélices rodaram para trás, como os ponteiros dos segundos de todos os relógios da cidade de Dresden, só que mais depressa.

(...)

No meu sonho, a Primavera vinha depois do Verão, o Verão depois do Outono, o Outono depois do Inverno, o Inverno depois da Primavera.

(...)

No meu sonho, as lágrimas subiam-lhe pelas faces acima de regresso aos olhos.

(...)

No meu sonho, havia pintores que decompunham o verde em amarelo e azul.
Decompunham o castanho no arco-íris.
Havia crianças que absorviam a cor dos livros de colorir com lápis de cor, e mães que tinham perdido os filhos remendavam a roupa preta com tesouras.

(...)

No meu sonho, havia pessoas que pediam desculpa por coisas que estavam prestes a acontecer. E acendiam velas inspirando. (...) Havia amantes que vestiam a roupa interior um ao outro, que abotoavam a camisa um do outro e que se vestiam e vestiam e vestiam.

(...)

O meu sonho percorreu todo o caminho de regresso ao princípio. A chuva cresceu nas nuvens e os animais desceram a rampa. (...) A chuva apareceu depois do arco-íris.

(...)

No fim do meu sonho, Eva voltou a colocar a maçã no ramo. A árvore tornou-se arbusto, que se tornou uma semente.
Deus reuniu a terra e a água, o céu e a água, a água e a água, a tarde e a manhã, algo e nada.
Faça-se luz, disse Ele.
E fez-se escuridão.
Oskar."

in Extremamente Alto e Incrivelmente Perto de Jonathan Safran Foer

quinta-feira, setembro 24, 2009

doce vida

Posso ser preso pelos carabinieri, mas um dia destes atiro-me à Fontana di Trevi como a Anita Ekberg.

quarta-feira, setembro 16, 2009

azul-desencontro

Quando se viaja o número de pessoas que passam por nós e que nunca mais se irão cruzar no nosso caminho aumenta exponencialmente; por exemplo, quando hoje esperava o autocarro para o aeroporto, de todos os carros que passaram por mim reparei principalmente num, cujos condutor e passageiro eram gémeos idênticos na casa dos setenta, dentro de um Dacia vermelho que trazia em cima duas floreiras cheias de girassóis. Para quem não sabe os girassóis são flores que me têm um significado preciso e precioso desde há coisa de um ano, logo a minha atenção foi prontamente roubada por este curioso par.
Sei que eles não me viram nos cinco segundos em que permaneci no seu raio de visão, nem tomaram sequer consciência da minha existência, eu não lhes existo: a isto chama-se desencontro. O desencontro está para a vida como os oceanos e mares estão para a Terra, tão cheios de azul que até o nomeiam pela sua cor. Posso até aumentar o grau de comparação: o desencontro está para a vida como o espaço entre as estrelas está para o firmamento. Por isto é que quanto mais longe estamos da luz cegante da rotina, mais estrelas aparecem no céu, diminuindo substancialmente o azul-negro entre os cintilares. Por isso é que os encontros no meio dessa luz são verdadeiros milagres e milagres verdadeiros.
Parma, 15-09-09

terça-feira, setembro 15, 2009

Bonne Chance, Ibrahim!

Parece que o inverno já chegou ao norte de Itália, ainda não parou de chover desde que aterrei na bota. Por agora tenho tido muita sorte na arte do encontro, já que logo no aeroporto encontrei um casal internacional de outras histórias que me deu boleia até ao ostello della giuventú di Milano, achado na internet ainda por outra amiga italiana que provavelmente nem vou conhecer.
Depois de um check-in demorado conheci o Ibrahim, um tunisino que chegou a Itália ilegal há já três anos e que, não sendo bem recebido, partiu para Nice. Conversámos no alpendre da pousada numa mistura de italiano e francês sobre Itália, França, Tunísia e Portugal. Ele confessou-me com uma espécie de sorriso que a vida lhe tem sido dura, que não tem encontrado a sorte pelos caminhos, o que me levou a pensar que se porventura toda a gente boa tivesse sorte, não haveria sorte que chegasse para todos, esgotar-se-ia. Gostava que houvesse sempre boa sorte para toda a boa gente.
Assistimos na sala de convívio ao final do programa da Miss Italia '09 e se há coisa que não se perde na tradução é a reacção de dois homens à beleza da mulher. Depois de lhe explicar o meu porquê das mulheres portuguesas serem mais bonitas que as italianas e da típica conversa internacionalista sobre futebol, em que lhe expliquei também o porquê do Sporting ser o melhor clube de Portugal, algo que ele prontamente compreendeu e reconheceu, cada um seguiu o seu caminho pelos sonhos.
No dia seguinte pela manhã quando deixava a pousada, quis deixar-lhe uma mensagem na recepção, o que não foi possível já que eu só sabia o primeiro nome do meu novo amigo. Não querendo desistir deixei o papel encostado ao lado de dentro de um vidro à entrada do hostel, espero que o vento não o tenha colhido e que ninguém o tenha retirado, pois o que desejei ao Ibrahim naquela mensagem é tudo o que ele precisa, pois de tudo o resto que nos torna bons homens ele tem, deixei escrito: Bonne chance, Ibrahim!

Milão, 15.09.09

sexta-feira, setembro 11, 2009

I

quero-te encontrar ao virar de todas as esquinas
no inconstante esvoaçar dos dias, estilhaçar das noites
no final dos meus dedos e no princípio dos meus lábios
quero-te encontrar no reflexo dos meus espelhos
no abrir dos meus olhos exaustos de te contemplar
e na insistência perserverante desse preciso olhar