sexta-feira, fevereiro 01, 2008

e um italiano dá aulas de português...

Hoje ouvi um concerto... se trocar o verbo desta frase pelo correspondente italiano fica: hoje senti um concerto... se levar a peito (e levo!) as palavras de Álvaro de Campos fica: hoje viajei um concerto, porque segundo o Álvaro "a melhor maneira de viajar é sentir". Parece confuso? Não é.
Mariano Deidda é italiano, a sua silhueta é dylanesca, mas as parecenças ficam por aqui, tosco no vestir e algo timído no falar, a não ser quando fala de paixões, e a sua maior paixão é portuguesa: Fernando Pessoa. Veio mostrar Lisboa a quatro amigos, uma toca piano como quem toca nas almas, os outros três tocam muito bem contrabaixo, acordeão e clarinete. Passaram ali pelo rossio, mais concretamente pelo Teatro Nacional D. Maria II, e fizeram-nos sentir a todos que lá estávamos um pouco mais portugueses (em todos os maravilhosos bons sentidos desta às vezes enganadora qualidade). Acontece que Mariano oferece a sua música à poesia de Pessoa, à nossa poesia de Pessoa, à poesia de Pessoa de todo o mundo, e a sua música é digna dessa poesia porque ajuda a sentir as palavras, mesmo em italiano.
Vem um homem de Itália que não fala português e apaixona-se por Pessoa e sucessivamente por Lisboa e sucessivamente por Portugal. Fala a linguagem universal da poesia e consegue num breve gesto representar o seu país, o nosso país, a sua língua, a nossa língua, a sua poesia que é a nossa poesia e tantos dos nossos grandes poetas, que palavra a palavra, construíram o nosso saber.
É bonito pensar neste senhor, porque há muitos portugueses que não sabem que existiu um poeta que é um herói para muitos, em muitos lugares do mundo... alguns já o viram petrificado no Chiado, mas quantos já ouviram os seus passos apressados pelas calçadas das ruas de Lisboa?
Eu já. E hoje ouvi outra vez, senti outra vez, viajei outra vez... depois de ver o concerto de Mariano Deidda... depois de guardar o concerto de Mariano Deidda e Fernando Pessoa, e a nossa voz.

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