segunda-feira, março 16, 2009

ao amigo Jojo

No final de Janeiro escrevi um pequeno post com o título "tornar-se amigo de alguém que vai partir em breve". Esse amigo que ia partir em breve partiu ontem para Luanda. É o Jojo. Como não cheguei a ser um amigo de todos os dias, embora seja um irmão, não me despedi dele. Tentei-o na sexta, mas não o encontrei no lugar do costume, o que não me preocupa, já que ao longo da minha vida as despedidas têm vindo a perder progressivamente a importância. Digo isto porque o que interessa não é a despedida, é a partilha que é feita antes. Bem que pode ser uma despedida dramática, com correrias e lágrimas, abraços e muitos "porta-te bem" (como o ET), é sempre bonito isso, mas do que se lembra depois não é da despedida, não é isso que fica, mas o antes disso. É o encontro, a improbabilidade do encontro, num segundo o anonimato, no seguinte um nome, expressões, "torres de palavras antes das emoções", aí começa sem se saber uma partilha, e num dia que saímos de perto dessa pessoa pensamos alguma coisa do género: "hoje soube-me a tanto e portanto hoje soube-me a pouco". Regressando à partida, o Jojo foi para Luanda (de onde ele é), e sei que, salvo alguma surpresa, passará muito tempo até nos reencontrarmos por este mundo. Fica o groove que marcou o ritmo fraterno, as vozes unidas que cantaram poesias sempre em português, sempre a língua portuguesa que é onde somos compatriotas. Ficam as mulheres da nossa vida, onde quer que elas possam estar, existam ou não, sei que as cantaremos sempre, onde quer que estejamos. Fica um tejo bar, e outro vai com ele. Fica o jogo da bola ao domingo, porque a alma nada é sem o físico e há que cuidar do lar da nossa alma. E fica a música onde nos fizémos irmãos entre outros, e as palavras que a formam, marcadas na palma da nossa mão. Até sempre.

O meu amor tem lábios de silêncio
E mãos de bailarina
E voa como o vento
E abraça-me onde a solidão termina

O meu amor tem trinta mil cavalos
A galopar no peito
E um sorriso só dela
Que nasce quando a seu lado eu me deito

O meu amor ensinou-me a chegar
Sedento de ternura
Sarou as minhas feridas
E pôs-me a salvo para além da loucura.

O meu amor ensinou-me a partir
Nalguma noite triste
Mas antes ensinou-me
A não esquecer que o meu amor existe.

1 comentário:

R.L. disse...

comovi-me .