segunda-feira, agosto 10, 2009

o meu povo dos telhados

Era noite em Florença e nas almas dos que estavam, se porventura algum florentino se dirigisse à sua janela para cima de 5º andar virado a poente, veria duas chamas esvoaçantes a dançar pelos telhados do lado ímpar da Via Cavour. Para os que lá estavam ninguém os via, nem eles próprios se viam a si mesmos, estavam camuflados na vida de ser de outro lado que não aquele, de ser outrem. O povo dos telhados subia do número 37 e caminhava levemente por cima das telhas para uma nova perspectiva da cidade. Por vezes seguia para o 39, 41 e 43, que era uma importante biblioteca italiana, a Marucelliana, com uma abóbada por onde dava para espreitar suas estantes poeirentas; por outras para o 35 e 33, que era um prédio de esquina com um terraço de sonho.

Era nesse terraço que as chamas voavam, onde o povo do telhado juntava a sua voz em cânticos novos de sua vida. A duas centenas de metros podia avistar-se a beleza grandiosa do Duomo, que se destacava sempre da paisagem citadina, como algo que foi lá colocado muito antes do seu tempo, como uma nave de um povo superior que ali aterrará dentro de mil anos.

Tudo isto fazia o povo do telhado pensar que tinha muita sorte em poder estar ali, e que sentiria um aperto grande no coração quando quisesse voltar e não pudesse, enfim.

Ao povo do telhado dedico este pequeno texto, para que saibam que eu também sinto, que eu também quero lá voltar.

2 comentários:

R.L. disse...

não foi por acaso que este texto surgiu :)

gambozino disse...

sabes bem... é bom subir a telhados, é um sítio do silêncio...