quarta-feira, setembro 16, 2009

azul-desencontro

Quando se viaja o número de pessoas que passam por nós e que nunca mais se irão cruzar no nosso caminho aumenta exponencialmente; por exemplo, quando hoje esperava o autocarro para o aeroporto, de todos os carros que passaram por mim reparei principalmente num, cujos condutor e passageiro eram gémeos idênticos na casa dos setenta, dentro de um Dacia vermelho que trazia em cima duas floreiras cheias de girassóis. Para quem não sabe os girassóis são flores que me têm um significado preciso e precioso desde há coisa de um ano, logo a minha atenção foi prontamente roubada por este curioso par.
Sei que eles não me viram nos cinco segundos em que permaneci no seu raio de visão, nem tomaram sequer consciência da minha existência, eu não lhes existo: a isto chama-se desencontro. O desencontro está para a vida como os oceanos e mares estão para a Terra, tão cheios de azul que até o nomeiam pela sua cor. Posso até aumentar o grau de comparação: o desencontro está para a vida como o espaço entre as estrelas está para o firmamento. Por isto é que quanto mais longe estamos da luz cegante da rotina, mais estrelas aparecem no céu, diminuindo substancialmente o azul-negro entre os cintilares. Por isso é que os encontros no meio dessa luz são verdadeiros milagres e milagres verdadeiros.
Parma, 15-09-09

2 comentários:

SG disse...

... na vida "Everything Is Illuminated", exactamente para que mesmo nos desencontros haja algo de belo num só momento...e os momentos não têm ponteiros!

oui c'est moi disse...

encontros e desencontros fazem parte da maravilha que é o quotidiano, que é ameno tantas vezes e que surpreende de repente. com um girassol que aparece ou outra flor qualquer que está à espera de nós. que boa viagem g. que boa partilha depois contas tudo. depois dizes como está esse país e tiras um bocadinho da saudade. abraço enorme até ti nessa botinha. sê mt feliz nestes dias.