quinta-feira, outubro 22, 2009

os nossos saramagos - comentário saramargo

Antes que os arautos do ateísmo portugueses parem de se babar com os comentários do Saramago II, e antes que os defensores da "verdade inequívoca" das Igrejas parem de bater no velhinho, decidi dar a minha opinião sobre estes nossos saramagos, capazes de tanta e tão pouca inflamação de orgulho nas nossas almas lusíadas. É verdade, na minha opinião existem dois saramagos, e passo a explicar, existe aquele nobel saramago que soube escrever obras incomparáveis no pânorama mundial, que transporta em si a universalidade da literatura, da poética, a força inquebrável das palavras. Esse saramago, que acredito que ainda existe, ao assinar cada obra nova, qual apanágio da "morte do autor", é engolido pelo Saramago II, uma personagem azeda e arrogante que barafusta sobre a ordem mundial desfiltradamente, ora acerta, ora vai ao lado, mas normalmente fala mais do que devia, como o fazem os senhores reformados que jogam às cartas na Alameda e como o fez aquele mítico personagem do nosso Camões, o velho do Restelo. Se "a Bíblia é um manual de maus costumes" para Saramago II também o deve ser para muita gente, gente que não perde tempo a dizê-lo. No entanto para muitos outros a Bíblia é um livro sagrado, ainda para outros será uma das mais importantes obras universais onde se encontra uma das mais fortes fundações da condição humana. Para alguns até tem umas histórias giras, enquanto que os há que nem pegaram nela, mas que sabem que é uma maçada. Eu, que nunca a li de uma ponta a outra, e que já li e estudei algumas partes tanto do velho como do novo testamento, tenho a dizer que cada vez que a abro descubro novas possibilidades, é uma obra que está viva, milhares de anos depois, tal como os poemas épicos de Homero, a Poética de Aristóteles, os tratados de Platão, é uma obra que não se encerra nunca. Decerto que me irrita muito mais que a Saramago, sendo eu católico, que esta obra eterna na sua simbologia seja ainda usada como manual de costumes (especialmente dos maus, porque também há bons), mas o que me irrita ainda mais é a forma como o senhor, para fazer crescer o apetite em torno de sua obra, sente ter que apequenar os outros e as suas convicções e credos. E depois há os que o acham um herói nacional, um intelectualmente exilado, enfim, eu gosto do Saramago I, o autor que se encerra depois de cada obra, o II, que cospe no prato em que comeu, não creio que seja uma fonte de bons conselhos e avisos. Eu sou a favor dos que não precisam de falar sobre os seus livros.

2 comentários:

rainha do vale disse...

boa, gui.

oui c'est moi disse...

saramago é sem dúvida um génio da literatura, agarrou-me mesmo depois da jangada de pedra e só muito depois no ensaio sobre a cegueira, o evangelho segundo jc e o todos os nomes. deixo as observações literárias para outros momentos. mas sem dúvida que o acho sublime. viva a liberdade de expressão, viva a democracia, viva isso tudo, viva que se acendam polémicas é muito bom agitar as águas. que em águas agitadas nada-se melhor, cresce-se mais. agora direito de resposta. como é natural.agora podia ter explicado melhor. podia e devia. devia por consideração e pela premissa básica que somos todos iguais, estamos todos ao mesmo nível na condição humana - saramago coloca-se com a afirmação que faz num pedestal iluminado de superioridade de costumes quando reduz um livro a uma frase - e todos os que nele veêm algum sentido, beleza o que seja como mal acostumados. eu n sou testemunha de jeová. eu n sou católica praticante. tenho a minha fé, os meus costumes, tenho uma familia enorme que sim é bem católica e não são concerteza nenhuns tolos. e sim acho redutor, acho triste e vejo com tristeza como veria vindo de qualquer pessoa como um ser humano com um calibre intelectual tão grande reduz de repente uma obra numa frase - porque se pode dar ao direito de dizer frases que "implicitamente tenham tudo explicado lá dentro do porquê de ser a biblia má costumeira. enfim vou continuar a lê-lo concerteza e a admirá-lo como escritor só que talvez agora repare cada vez mais nas suas rugas que me parecem sim de um homem sábio, mas carregadas de amargura e ressentimentos.