quinta-feira, julho 13, 2006

Sem contar comigo até à morte.

Jogavam às escondidas alheios ao que realmente se passava à sua volta, nem haviam reparado nas expressões tristes que ostentavam todos os adultos ali presentes, o local onde estavam: quem sabe, a única coisa que importa é que tem bons esconderijos onde podiam permanecer ocultos durante vários minutos para no instante derradeiro surpreenderem os seus adversários com uma aparição repentina, seguida por uma corrida desenfreada - talvez a mais importante das suas vidas - até ao coito, onde poderão gritar a plenos pulmões e cheios de orgulho: Um dois três Salvador salva todos... Depois vem a polémica, a Vera, que estava a contar, diz que o Salvador fez batota pois o Zé foi avisá-lo que o caminho estava livre, recusa-se categóricamente a contar outra vez. A Chica e a Matilde juntam-se à Vera e como vivemos num país democrático as meninas ganham a parada. De seguida Zé, com toda a sua diplomacia, propõe um Undó Litá para estabelecer o novo contador de serviço para o jogo poder prosseguir, Chica e Matilde concordam mas a Vera logo grita: Sem contar comigo! - todos ficam a olhar perplexos, não contavam que se usasse a regra universal do "Sem Contar Comigo" neste jogo, afinal de contas eram todos primos e sempre se haviam dado bem sem recorrer ao uso das regras universais, isto claro sem contar com aquela vez que o Salvador se lançou à piscina com o barquinho de borracha da Chica e usou a regra do "Quem Foi ao Ar Perdeu o Lugar". No segundo imeditado à recorrência da Vera ouve-se o Salvador a utilizar a mesma regra mas com o anexo 1-AM : Sem contar comigo até à morte! Parecia claro a todos, faria-se de facto o Undó Litá mas sem contar com a Vera e sem contar com o Salvador até à morte. O jogo pôde então prosseguir desta feita com um novo contador, o Zé. 1...2...3... e os meninos apressaram-se a escolher o melhor esconderijo, 4...5...6... a Vera encolheu-se atrás de um vaso, 20...21...22... a Chica enfiou-se debaixo do vão de umas escadas velhas de madeira, 31...32...33... a Matilde escolheu uma grande porta e escondeu-se atrás da mesma, 41...42...43... o Salvador ainda estava a correr, ele não se contentava com um esconderijo qualquer, precisava sempre de um local em que soubesse que nunca o iriam procurar, mas assim de repente não encontrava nenhum, em vez disso deparou com uma imagem que o assustou como nunca nada o tinha assustado até àquele dia, um caixão aberto no meio de uma sala - já tinha visto um daqueles num filme que vira às escondidas dos pais numa noite de Inverno - mas este tinha um gigante pormenor que o assustava de uma forma diferente, dentro dele estava deitado imóvel o Avô Manel... sentiu-se confuso visto que a mãe tinha dito que o Avô tinha ido para o céu quando afinal de contas estava ali... de repente lembrou-se: O JOGO! - foi algo menos de um segundo antes de ouvir a voz de Zé: Um dois três Salvador, não salva ninguém...

Sem comentários: