quarta-feira, abril 22, 2009

Grande Gran Torino

Antes que deixe de estar arrepiado pelo filme que acabei de ver, quero deixar aqui escrito que há poucos realizadores que me deixaram neste estado. Sinto um calor nervoso no peito, como se sentem os homens que segundo as escrituras se cruzaram com anjos e santos. Não que o Clint o seja, é humano demais para o ser (o seu canto o confirma), mas este filme transporta qualquer coisa de parabólico, um ensinamento profundo que cabe em cheio em nós, os que aprendemos. Gran Torino torna possível o improvável acontecimento de o Vasco Câmara (crítico do público que não costuma gostar de ir ao cinema) e eu termos a mesma opinião sobre um filme: «Espalhem ao vento: "Gran Torino" é uma obra-prima.»! Vasco, eu sei que não suportas o Shyamalan e que para ti o Wes Anderson constantemente se repete, mas quanto a este Clint estamos juntos. E a sensação que não me deixa de apoquentar de que cada filme que vejo da colheita deste ano seja melhor que o "melhor filme do ano" que, vá, é engraçado; deixa-me com a certeza de que os óscares já não elegem nada como deve ser. Este não é só o melhor filme do ano, este é o filme que redime todos os outros melhores filmes de todos os anos, que tendo pecado a níveis diferentes, nele proclamam a sua confissão. E pensar que este homem se há-de extinguir, que poucos anos nos restam na revelação de novas obras suas, faz-me querer agarrar com força ao que ele já legou, a nós órfãos desse cinema antigo e despojado de enfeites, como Thao se agarrará sempre ao seu Ford Gran Torino novinho em folha, apesar da idade.

1 comentário:

WFox disse...

O teu comentário sobre este filme, levou-me a arriscar…e fui espreitar.

De facto concordo …este filme vale muito a pena ser visto!
Numa simplicidade imensa, num ambiente aparentemente rude e céptico, suscita-se a “redenção” de alguém vergado pela dor íntima de não estar em paz …. Eu diria que tem uma carga mística profunda…
Este Clint surpreende. Impressionante o desempenho como actor e realizador…