sábado, abril 25, 2009

há sempre alguém que semeia canções no vento que passa

O que terá feito que um golpe de estado de um país há muito agrilhoado decorresse quase sem tiros, sem explosões? O que terá feito que a guerra não chegasse a ser de violência, como se tudo estivesse lá para ser tomado pelo povo, o mesmo povo que tinha as vozes silenciadas pela opressão do fascismo - e o que me dói só de escrever esta palavra? O que o fez pode ter sido muita coisa, pode ter sido o povo unido que saíu à rua, que correu atrás dos tanques porque queria participar, queria ser livre numa vontade que há muito vinha sendo acumulada, camada por camada, em várias gerações. Pode ter sido a madrugada, que vem a seguir à noite e promete o nascer do sol. Cá para mim foram estas e mais uma: a música. "Há sempre alguém que semeia canções no vento que passa", no caso da que carrega este verso foram Adriano Correia de Oliveira e Manuel Alegre os semeadores, mas tantas outras foram semeadas por outros heróis da nossa revolução: Zeca Afonso, José Niza, José Carlos Ary dos Santos, Luís Cília, José Mário Branco, Paulo de Carvalho, Sérgio Godinho, Fausto Bordalo Dias, Vitorino, Manuel Freire e outros que nem sei. No dia 25 de Abril de 1974 a maioria deles nem pôde correr pelas ruas em uníssono, estavam exilados, mas as suas canções foram soldados pacificadores na alma portuguesa, neste dia, das sementes floresceram cravos de dentro das espingardas, não se sabe como foram lá parar, mas eu acredito que floresceram das canções das vozes de Abril, flores tão fortes que as balas nem quiseram passar. Eu não tinha ainda nascido neste dia, em que os portugueses renasceram todos ao mesmo tempo, alguns mesmo sem saber, mas quero comemorar sempre esta data como o nosso maior tesouro, o dia em que com o sol nasceu também a liberdade, esse bem que ainda a muitos é privado, nas cabeças dos que as têm mas nem por isso a usam, ou permitem os outros de usar. Cuidemos da nossa liberdade sem privar os outros da deles, tomemos o exemplo das canções que foram semeadas no vento, e que ainda hoje nos sussuram ao ouvido: tu mereces ser livre da mesma forma que mereces respirar. Sem esquecer que elas sussurram a todos a mesma verdade. Parabéns Liberdade, contes todos. Fascismo nunca, mas mesmo nunca mais.

1 comentário:

R.L. disse...

as tuas palavras, sim, são bonitas, e ajudam-me a pintar a casa de branco, que existe dentro de mim.